Revendedoras comercializam em média 100 unidades do produto por dia
Quando a notícia da falta botijão de gás de cozinha chegou aos ouvidos dos consumidores, muitos decidiram correr para tentar garantir o produto em Salvador. O resultado foi revendedoras movimentadas ao longo da terça-feira (8), mas com poucas unidades para venda. O Sindicato dos Revendedores de Gás da Bahia (SindRevGás) estima que 400 lojas tenham fechado no estado. Em média, cada uma delas comercializa 100 unidades por dia, o que significa que cerca de R$4,8 milhões deixam de circular no setor diariamente.
Desde domingo (6), o pintor Neidson dos Santos, de 40 anos, sai de casa à procura de botijão de gás e não consegue achar o produto. A alternativa encontrada foi cozinhar com lenha na residência da família em Pituaçu. “Já fui em vários lugares e não acho, estou procurando há dias e estamos tendo que usar o fogão de lenha em casa”, diz.
Neidson dos Santos conversou com a reportagem enquanto checava se a revendedora Império do Gás, em Pituaçu, tinha o produto. Porém, se desde a semana passada o dono da loja não conseguia trabalhar normalmente porque a distribuição estava reduzida, na terça-feira (8) o estoque ficou zerado. O proprietário Luciano Rodrigues estima que tenha deixado de vender 700 unidades ao longo dos últimos quatro dias.
O botijão de gás é vendido na Bahia atualmente por R$120 em média, o que significa que em menos de uma semana, Luciano pode ter deixado de arrecadar R$84 mil. O dono da revendedora lamenta os prejuízos.
“O custo para rodar uma empresa de gás é muito alto, dispomos aqui de muitos veículos. Já estamos trabalhando no prejuízo”, lamenta Luciano Rodrigues.
A causa da escassez é uma manutenção realizada na Refinaria de Mataripe, que abastece a região. Em nota, a Acelen, empresa que administra a refinaria, informou que nos próximos dias o cronograma de produção deve ser regularizado. O prazo não foi especificado pela empresa que comanda a refinaria desde de dezembro do ano passado, quando houve a privatização.
Como o gás de cozinha é um produto essencial, donos de revendedoras temem que o cliente que não encontrar o produto, só procure o local novamente em pelo menos dois meses. “A perda do gás é irreparável porque quem está em busca do produto, precisa dele naquele momento. Se não encontrar na minha revenda, vai buscar em outra. O cliente que eu não atendi esse mês, só vai voltar em dois meses”, diz Rosana Mello, proprietária de uma revendedora em Simões Filho.
Outro problema relatado pelos comerciantes é que há pelo menos duas semanas as revendas têm recebido menos gás para comercialização do que o costume. No sábado (5), Walter Nere, dono de uma revendedora em Matatu de Brotas, deveria ter recebido 210 unidades para comercializar, mas foram só 70. Como vendeu todos, no domingo os clientes que procuravam a loja não encontraram o botijão de gás.
“Tem cliente vindo da cidade toda, é um corre-corre atrás de gás. Está um verdadeiro caos na cidade”, afirma o comerciante.
O gás de cozinha de Vanessa Matos, moradora do imbui, acabou no sabado (6) durante o horário de almoço. Sem conseguir encontrar o produto no sabado e nem na segunda-feira, a consultora só recebeu o botijão cheio em casa na terça-feira (8). “Conseguimos comprar hoje cedo, imagino que pela localidade tenha vindo mais rápido. Mas o moço da entrega disse que tinham poucas unidades”, revela.
Interior
Revendedoras de gás localizadas em Salvador costumam receber o produto diariamente. Nesta terça-feira (8), alguns caminhões chegaram a buscar os botijões na Refinaria de Mataripe, mas não conseguiram ser abastecidos com a quantidade necessária. Por isso, algumas lojas que venderam o produto no início do dia zeraram o estoque.
Em cidades como Barreiras, Camaçari e Simões Filho a situação é ainda mais crítica. Municípios mais distantes recebem carregamentos com maior quantidade de botijão de gás para realizar o percurso menos vezes. Robério Souza, presidente do SinRevGás, garante que a escassez não possui relação com protestos anti-democráticos que acontecem em rodovias do país.
Ele firma que os produtos têm chegado ao comércio de forma gradativa, mas garante que os consumidores que ainda estiverem com gás em casa, não precisam ir em busca do botijão. Somente em Salvador e Região Metropolitana são vendidos, em média, 2,5 mil unidades por dia.
Segundo o presidente do Sindicato dos Revendedores, as revendedoras da Ultragaz são as que mais estão enfrentando a escassez: “Quatro marcas atuam no estado, mas 60% do mercado está concentrado na Ultragaz, que pela maior demanda, está sofrendo mais”.
Em nota, a Ultragaz informou que está trabalhando na contingência logística e reúne esforços para garantir o abastecimento. A distribuidora não informou quantas revendedoras estão desabastecidas.
Aumento da procura pode refletir nos preços, diz economista
Pela lei da oferta e da procura, quanto maior for a busca por um produto, o preço tende a subir. Por isso, o economista Alex Gama, integrante do Conselho de Economia da Bahia (Corecon-BA) e professor da Unifacs, acredita que o botijão de gás de cozinha deve ficar mais caro na Bahia durante o período de escassez, o que deve ser normalizado depois.
Sindicato pretende compra gás fora da Bahia
O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liqüefeito de Petróleo (Sindigás) emitiu nota, ontem, informando que diante dos problemas com a oferta de GLP pela Refinaria de Mataripe, as distribuidoras associadas à entidade se uniram em um esforço para trazer o produto do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.
A entidade também não descarta importar GLP da Argentina e da Bolívia em cargas rodoviárias. Mas, para isso, precisaria utilizar estrutura da Petrobras ou da própria refinaria comandada pela Acelen. “Tudo para garantir o melhor abastecimento possível”, diz a nota.
Ainda segundo o Sindigás, “não há razão para uma corrida pela compra do produto, pois o suprimento será regularizado brevemente. O Sindigás alerta que compras antecipadas podem gerar uma sensação de escassez, pressionando os preços, o que pode trazer mais danos à sociedade”, finaliza.