
A Black Friday em Ciudad del Este, no Paraguai, mais uma vez se transformou em um fenômeno que revela fragilidades profundas do mercado brasileiro. Enquanto shoppings e centros comerciais no Brasil disputam consumidores com descontos muitas vezes questionáveis, do outro lado da fronteira milhares de brasileiros atravessam a Ponte da Amizade em busca de ofertas que realmente fazem diferença no bolso.
Um fluxo que virou rotina — e sintoma
Durante o período de promoções, as ruas de Ciudad del Este ficam tomadas por brasileiros. Muitos viajam horas e até dias para chegar à tríplice fronteira, impulsionados pela promessa de pagar mais barato por eletrônicos, perfumes, roupas, artigos de informática e celulares — produtos que, no Brasil, costumam custar até o dobro por conta da carga tributária.
Esse movimento em massa não é apenas turismo de compras; é reflexo de um problema estrutural. Com impostos como IPI, ICMS, PIS e Cofins incidindo em cascata, somados a custos internos e margens de distribuição, o brasileiro vê no Paraguai a chance de comprar aquilo que em seu próprio país se tornou inacessível.
Brasil perde competitividade
Enquanto o comércio brasileiro esforça-se para emplacar sua própria Black Friday — criticada todos os anos por “metade do dobro” e promoções pouco transparentes — Ciudad del Este oferece descontos reais sobre produtos que já partem de preços naturalmente mais baixos.
A diferença é tão grande que, mesmo com limites alfandegários e a possibilidade de pagar imposto sobre compras excedentes, muitos consumidores ainda consideram mais vantajoso gastar no exterior.
Isso levanta um questionamento importante: como um país do tamanho do Brasil não consegue competir com o Paraguai em preços, mesmo tendo uma das maiores economias do continente?
Impacto econômico dos dois lados
O Paraguai se beneficia enormemente do fluxo de brasileiros: hotéis lotam, restaurantes dobram o atendimento e lojistas se preparam meses antes para receber o grande público. A Black Friday chega a movimentar centenas de milhões de dólares, impulsionando a economia local.
No Brasil, por outro lado, parte do varejo é prejudicada justamente por não conseguir oferecer condições semelhantes — o que reacende debates sobre burocracia, carga tributária e a necessidade de reformas que tornem o país mais competitivo.
A travessia que virou símbolo
As imagens de filas intermináveis na fronteira se repetem todos os anos: turistas carregando sacolas enormes, comerciantes improvisando transporte de mercadorias e uma movimentação que transforma a região da ponte em um corredor de consumo.
É um retrato claro de que a população está disposta a enfrentar longas viagens, filas e fiscalizações apenas para fugir dos preços praticados em seu próprio país.
O que esperar para o futuro
Enquanto a reforma tributária brasileira avança lentamente, o Paraguai segue fortalecendo sua vocação comercial, atraindo consumidores e ampliando sua infraestrutura para receber cada vez mais viajantes.
Se nada mudar, a tendência é que a Black Friday no país vizinho continue crescendo — não apenas como evento comercial, mas como símbolo das distorções econômicas brasileiras.




