De papo com o Psicólogo Daniel Portela; “O luto nosso de cada dia”

Daniel Portela

Que estamos em uma situação crítica, todos já sabem. A pandemia tem gerado diversas crises nas esferas pessoais, profissionais, econômicas e sociais. A pressão mental é completamente absurda com as perdas repentinas. Em especial, para aqueles que estão tendo que enfrentar o luto sem quaisquer suportes para permitir que adaptação à nova realidade não cause tanto estrago. Para alguns, o sofrimento é ainda maior por não haver um ritual de despedida. Ritos aliviam dores. É uma estratégia de enfrentamento.

Com efeito, estar de luto e continuar sobrevivendo, tendo que dar conta das demandas naturais da vida é uma luta constante.

Como continuar bem na Terra sem a presença física da figura que tanto amamos?

É necessário reaprender a viver. Construir um novo significado para a existência, apesar do cotidiano perder um pouco do sabor e de beirar ao insustentável. Expressar a sua dor falando, escrevendo, chorando, etc. pode ajudar a reorganizar o que acontece por dentro. Desejar ficar isolado (a) também é opção. A forma de enfrentar é toda sua.

A desesperança, o pesar, tristeza profunda, a paralisação faz parte do processo até a chegada da aceitação do luto. Todos os estágios sentimentais são preparatórios para que você consiga ter fôlego para criar um roteiro diferente para a sua vida e retomar o que for essencial.

É válido apostar na sua capacidade de superar os desconfortos que lhe surgem. Se estiver complicado demais enfrentar só, comunique a quem sentir confiança. Dividir traz benefícios nessa tão difícil ocasião. Recorra a um profissional de saúde mental logo que for possível para não agravar o sofrimento psíquico.

Lembre-se sempre que há muitas e muitas formas para lidar com as situações que surgem. Tenha consideração pelo seu momento. Não se cobre além do limite.

A morte é quase sempre cheia de tabus e mistérios. Cada cultura a compreenderá de um determinado jeito. Evidentemente, morremos todos dias, mas vivemos também. Temos um rápido e precioso tempo na existência. Nesse intervalo entre a vida e a morte, porém, elaborar de forma construtiva tudo o que nos acontece é fazer valer sabiamente cada encontro e despedida.

Psicólogo

Daniel Portela

CRP-20/06476

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