Pedro Guimarães quer expor imagens de circuitos internos de hotéis e da Caixa. E admite ‘choque de postura’ para tirar CEF das ‘manchetes policiais’
Cinco dias depois do mais fulminante processo de queda política da história recente de Brasília, que o levou à demissão após denúncias de assédio sexual e moral, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Pedro Guimarães revela aspectos de sua defesa e manifesta forte indignação quanto ao que chama de “massacre insano e inquisitorial”. Em artigo publicado em jornal de grande circulação, o ex-executivo e amigo próximo do presidente Bolsonaro (PL) declara que deseja “a mais profunda devassa a que uma pessoa pode ser submetida”.
Ao exigir provas das acusações feitas contra ele por servidoras – que o denunciaram ao MPT (Ministério Público do Trabalho) por comportamento verbal abusivo, toques íntimos não autorizados, insinuação sexual e assédio moral, Guimarães declara que vai solicitar a hotéis onde se hospedou durante viagens a trabalho e à própria CEF imagens de circuitos internos de segurança para comprovar sua inocência. “Será que um assediador serial pediria ou permitiria a divulgação de conteúdos como esse? Claro que não”, escreve.
O ex-dirigente da Caixa espera que o conteúdo ateste sua inocência. “Quero ver se há em todas essas horas um segundo sequer de comportamento impróprio, um ato atentatório contra uma única mulher”, afirma. “As falas contra mim são mentiras e os fatos irão demonstrá-las.”
Desde que as denúncias foram tornadas públicas, não houve nenhuma manifestação pública do presidente Bolsonaro sobre o tema. Em menos de 24 horas, Guimarães apresentou sua carta de demissão e deixou o cargo, já ocupado por Daniella Marques, auxiliar do ministro da Economia. A nova presidente da Caixa promete um processo amplo de apuração do caso, que já levou à saída de outros dirigentes do banco.
Guimarães, no entanto, admite que imprimiu um “choque de postura” ao assumir o comando da CEF, na única menção indireta à orientação política para sua gestão no cargo. “Dirigi a Caixa com uma diretriz clara. Quando cheguei, a empresa estava nas manchetes policiais. Era necessário um choque de postura”, declara. “Posso ter errado algumas vezes? Sim. Mas nunca haverá áudios meus promovendo a corrupção que antes corroía a Caixa e que estancamos. E não se faz isso rezando o pai-nosso. Às vezes é preciso motivar, às vezes e preciso demonstrar firmeza”, completa.
Guimarães também reclama de “vazamento seletivo” de suas declarações e faz alusão à reunião ministerial que motivou a apuração sobre possível tentativa de controle da Polícia Federal por parte do presidente Bolsonaro, episódio que culminou com a demissão do então ministro da Justiça, Sergio Moro. “Pediria que a íntegra das conversas fosse publicamente exposta. Vazem tudo! Que a verdade venha à tona em sua inteireza.”