Também conhecida como “doença do esgotamento profissional”, a Síndrome de Burnout passou a ser considerada, desde o dia 1º de janeiro deste ano, dentro da Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS), como doença ocupacional.
Definido como um desgaste que prejudica os aspectos físicos e emocionais da pessoa, levando a um esgotamento profissional, o distúrbio foi mencionado na literatura médica pela primeira vez em 1974, quando o psicólogo estadunidense Herbert J. Freudenberger descreveu os sintomas que ele e seus colegas da área médica estavam enfrentando.
De acordo com um estudo realizado pela Isma (International Stress Management Association – Associação Internacional de Gestão de Stress, em tradução livre) em 2019, mais de 33 milhões de brasileiros estavam, à época, acometidos pelo distúrbio.
Profissionais da área da saúde, um dos mais atingidos pela doença, sobretudo em tempos de crise sanitária decorrente da pandemia de Covid-19, tem sofrido com o desgaste mental e emocional, que, muitas vezes, cobram suas próprias vidas – uma estimativa da American Foundation for Suicide Prevention indica que, em média, 300 a 400 médicos cometem suicídio por ano em todo o mundo.
A rotina de superação e de jornadas extenuantes de trabalho de profissionais da saúde pode ser acompanhada em “O carrossel não para”, obra de estreia do generalista e escritor Gicélio Nóbrega. O livro aborda o cotidiano do médico e outros profissionais de saúde que atuam sob sobrecarga emocional e física que os levam a limites extremos de exaustão.
Estão expostos ali, de acordo com o autor, além de aspectos da Síndrome de Burnout, “conflitos profissionais, plantões desafiadores, crises de ansiedade e os primeiros momentos de uma pandemia global”, desvelando “o caráter humano atrás da imagem glamorosa projetada dos médicos” e denunciando a precariedade da estrutura da saúde pública no país.
A recorrência da Síndrome de Burnout na área médica, segundo Nóbrega, se dá por uma série de fatores: “A sobrecarga de trabalho, a falta de insumos, os salários baixos para a categoria… Tudo isso contribui para que os profissionais de saúde estejam sempre trabalhando no limite”, diz.
O cenário crítico, pontua ele, foi agravado pela pandemia de Covid-19. “Tivemos que cobrir plantões desfalcados, pois colegas estavam morrendo, familiares estavam morrendo, as medidas de segurança não foram tomadas à risca, os plantões estavam sempre lotados e havia poucos profissionais habilitados a trabalhar”, comenta.
A falta de valorização de médicos e enfermeiros por parte da sociedade, ademais, é vista com desânimo pelo médico e escritor. “Muitos saíram e fizeram panelaços e bateram palmas para os profissionais que estavam na linha de frente, mas ninguém fez quase nada para dar suporte psicológico aos profissionais”.
Carga de trabalho extenuante e ausência de momentos de lazer
Sobre a Síndrome de Burnout, Nóbrega diz lembra que, além dos médicos e enfermeiros, outros profissionais, como jornalistas, advogados, professores, psicólogos, policiais, bombeiros, carcereiros, oficiais de Justiça, assistentes sociais, atendentes de telemarketing, bancários e executivos.
“Esses profissionais acabam se esforçando muito com o trabalho e, várias vezes, se esquecem dos momentos de descontração e relaxamento. É como se a mente dessas pessoas estivesse alerta o tempo todo, fazendo com que se sintam exaustas”, afirma o médico generalista.
Muitas vezes também, prossegue, o Burnout está ligado ao fato das pessoas trabalharem em empregos que exigem bastante delas, isso faz com que se tornem exageradamente perfeccionistas. “A cobrança exacerbada de si mesmo, e pelos superiores, acaba impactando de forma negativa na vida pessoal e profissional”, diz ele, ressaltando que, no caso de muitas mulheres, há a incidência da chamada “dupla jornada”, conciliando o trabalho fora de casa com os cuidados do lar.
Além disso, pessoas que são muito empáticas são mais suscetíveis ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout, pois absorvem toda a carga emocional de terceiros para si, acrescenta o escritor. “A dor do outro acaba fazendo com que elas se preocupem excessivamente e sobrecarreguem o seu emocional”, diz.
Os sintomas mais comuns da Síndrome de Burnout, de acordo com um informe do CFM (Conselho Federal de Medicina), são: distúrbios do sono, dores musculares e de cabeça, irritabilidade, alterações de humor, falhas de memória, dificuldade de concentração, falta de apetite, agressividade, isolamento, depressão, pessimismo e baixa autoestima, sentimento de apatia e desesperança, irritabilidade exagerada, perda de prazer e maior suscetibilidade a doenças.
“A Síndrome de Burnout acaba sendo confundida, muitas vezes, com outros problemas emocionais, isso porque os seus sintomas também estão presentes em outras patologias mentais”, diz. “Por isso é necessário prestar atenção em muitos detalhes, sendo que o diagnóstico só deve ser feito por um profissional”, completa.
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