Em nova versão sobre a morte de Henry Borel, morto dentro de casa no último dia 8 de março, Monique Medeiros afirmou que foi drogada pelo então companheiro, o vereador Dr. Jairinho, na mesma madrugada em que o filho de quatro anos faleceu. A declaração consta em uma carta de 29 páginas escrita pela professora dentro do Hospital Penitenciário em Bangu, onde está internada com Covid-19.
A íntegra do texto foi divulgada pelo “Fantástico”, da TV Globo, nesse domingo (25). Nele, Monique relata que colocou Henry para dormir após ele acordar três vezes no dia 8 de março. Quando o casal cansou de assistir a uma série, por volta da 1h30, o vereador a convidou para irem deitar no quarto.
Ao chegar no cômodo, Dr. Jairinho “ligou a televisão num canal qualquer, baixinho, ligou o ar condicionado, me deu dois medicamentos que estava acostumado a me dar, pois dizia que eu dormia melhor, mas eu não o vi tomando. Logo, eu adormeci”, conta.
“De madrugada, ele me acordou dizendo para eu ir até o quarto, que ele pegou o Henry no chão, o colocou na cama e que meu filho estava respirando mal. Fui correndo até o quarto, meu filho estava de barriga pra cima, descoberto, com a boca aberta, olhos olhando para o nada e pensei que tivesse desmaiado”, continua.
Esta versão contraria o primeiro depoimento dado por Monique em meados de março, quando ela havia dito que viu o menino caído no chão primeiro e chamando Jairinho. A educadora alega que mentiu à Polícia Civil porque foi orientada pela defesa.
“Fui treinada por dias para contar uma versão mentirosa por me convencerem de que eu não teria como pagar por um advogado de defesa e que eu deveria proteger o Jairinho, já que ele se diz inocente”, afirma.
COMPORTAMENTO AGRESSIVO
Ainda na carta, Monique expõe os episódios de ciúmes e de uma relacionamento abusivo com o ex-namorado. No caso mais grave, em dezembro de 2020, ela diz que chegou a ser enforcada pelo vereador porque não havia atendido uma ligação dele.
A educadora acusa Dr. Jairinho de ter invadido a casa de sua família em Bangu, na Zona Oeste do Rio. “Lembro de ser acordada no meio da madrugada, sendo enforcada enquanto eu dormia na cama ao lado do meu filho… Quase sem ar, ele jogou telefone em cima de mim, perguntando, me xingando e me ofendendo […] No dia seguinte ele pediu desculpas, disse que me amava muito”.
Monique também detalha que Jairinho ligava ao menos 20 vezes por dia, colocou um localizador em seu celular, sempre pedia que ela mandasse fotos e teria até colocado pessoas para segui-la quando ia à academia. Alega que começou a ter crises de ansiedade e que ele começou a lhe receitar ansiolítico e remédio para dormir.
Ela narra que começou a notar que nas suas taças de vinho “sempre havia um ‘pozinho’ branco no fundo […] Um dia fui ao banheiro e quando voltei, peguei ele macerando um comprimido dentro da minha taça”. Em certa ocasião, afirma que tentou se trancar no quarto mas ele veio atrás e a jogou na cama.
TENTATIVA DE SEPARAÇÃO
Por causa do comportamento agressivo do companheiro, Monique pondera que tentava “a todo custo” se desvincular do político, mas ele ameaçava ela e seus familiares: “Eu não sabia, mas estava sendo manipulada durante todo o tempo em um relacionamento que me oprimia e eu não sabia como sair. Meus pais são pessoas boas, humildes, com caráter, mas não têm outro lugar para ficar. Temo pela vida deles!”.
Ao “Fantástico”, os advogados da professora argumentaram que ela expôs a nova versão sobre o caso só agora porque “sempre estava com alguém”. “A Monique a todo momento ela sempre estava com alguém, nunca esteve sozinha, no sentido de ter a liberdade de poder falar aquilo que ela teria a dizer, precisava dizer”, declarou Thiago Minagé.
Embora a defesa peça um novo depoimento de Monique no inquérito há mais de uma semana, o diretor do Departamento-Geral de Polícia da Capital (DGPC), delegado Antenor Lopes, indicou recentemente que já há elementos suficientes para concluir o relatório.
Dr. Jairinho e Monique foram detidos no dia 8 de abril por policiais da 16ª DP, da Barra da Tijuca, para onde foram levados, após a juíza Elizabeth Louro Machado, do II Tribunal do Júri da Capital, expedir mandados de prisão temporária por 30 dias.