Nosso portal acaba de fechar uma parceria com o Psicólogo Daniel Portela (CRP-20/06476) que passa a ser colunista a partir de abril, próxima sexta-feira (09).
Daniel é feirense, escritor e participa também como comentarista em uma Rádio Online, Rádio Criativa 10 Salvador.
Nossa ideia é trazer conhecimento sobre os assuntos que envolvem a psicologia e a mente humana já que pesquisas mostram que muitas pessoas estão incomodadas, frustradas, não dormem mais como antes, estão mais cansadas mentalmente e fisicamente.
As dúvidas sobre o amanhã são apavorantes. Nossa cabeça está em outra sintonia na era do covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (SARS-COV-2).
Nesse sentido, antes da chegada do psicólogo ao nosso portal, o SSA Notícias conversou com ele.
1 – Daniel, inicialmente a equipe do Portal SSA Notícias agradece pela aceitação do convite na contribuição do seu conhecimento.
Estamos vivendo um dos momentos mais difíceis em nossa sociedade, a pandemia do novo coronavírus. Especialistas afirmam que com a pandemia a ansiedade e a depressão assolam a nossa sociedade.
De que forma você acredita que sua participação no portal contribui para os cidadãos?
D: Todo esse turbilhão emocional tem sido intensificado, em especial, gerando uma forte ansiedade para os profissionais da área de saúde, mas também acomete aqueles que estão aprendendo a gerenciar toda essa angústia quanto a nova doença e, muitas vezes, passando por um inesperado luto na esfera pessoal. O suporte psicológico é sempre bem-vindo; seja através de leituras científicas confiáveis ou por suporte psicológico midiáticos que debata e informe mais a respeito desses sentimentos que incomodam tanto, tais como a raiva, tristeza, preocupação, desolação, frustração, dentre outros. Estou aqui para ser útil; para servir como um recurso a mais na promoção de bem-estar, ainda que tudo esteja um caos. A verdade é que eu espero trazer temas que auxiliem no alcance de maior conhecimento e autoconhecimento, pois dessa forma as pessoas terão grandes chances de investirem significativos conteúdos no que de mais valioso há na vida delas: elas mesmas.
2 – Conta um pouco sobre sua história e de que forma você atua no Tribunal de Justiça do Estado de Roraima (RR)?
D: Atuo há 6 anos na 1.ª/2.ª Varas da Infância e Juventude do Estado de Roraima. Tenho a responsabilidade de fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, desenvolvendo também aconselhamento, orientação, encaminhamento, efetivando prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação do Juiz de Direito, a fim de promover a efetividade dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes. Em todo esse contexto, trabalho com adolescentes infratores; com casos de guarda; medidas protetivas; adoções e etc.
3 – Como dissemos no início, você também atua como comentarista numa rádio online. Como é essa experiência para você?
D: Tem sido uma autoaprendizagem constante, sem dúvida. Igualmente, a trajetória pela rádio permite que eu suba degraus em minha escalada profissional. Meus horizontes ampliam-se cada vez mais em um nível íntimo e laboral. Tem sido algo inusitado falar para aqueles que desconheço a história pessoal de vida, mas que ao mesmo sinto que poderei colaborar de algum modo para que funcione melhor no mundo. Reconheço que cada um tem seu processo e deve respeitar o próprio tempo de assimilação e transformação da realidade em que vive. Contudo, pensar que posso participar positivamente disso é essencialmente empolgante.
4 – Nesta terça-feira (30) é o dia Mundial do Transtorno Bipolar e no próximo dia 2 de abril é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Você pode falar um pouco sobre essas duas doenças e suas formas de tratamento?
D: O Transtorno Bipolar é uma doença severamente complexa que exige tratamento medicamentoso e psicoterapêutico conciliados para uma satisfatória qualidade de vida do indivíduo e de quem com ele convive. Ele é chamado também de Transtorno do Humor por justamente provocar oscilações crônicas de humor e isto também ocasiona um comprometimento físico. Basicamente, dois ciclos vivem alternando: maníaco e o depressivo. Durante a fase maníaca, a euforia toma conta e vem a necessidade de gastar muito dinheiro; faz planos e com ideias simplesmente irreais; falam em excesso; o sono desaparece e perdem completamente o contato com a realidade. Em episódios mais depressivos, surgem sentimento de culpa; tristeza; sensação de inutilidade; aparecem ideações suicidas e há uma enorme fadiga.
Pessoas do gênero feminino são as que mais desencadeiam esse tipo de transtorno. Inclusive, acomete crianças também, principalmente a partir dos 10 anos. Ter histórico familiar em que alguém apresentou essa doença é considerado um fator de risco para futuras manifestações. É importante que se diga que não há cura. Entretanto, quando o acompanhamento profissional é aderido, grandes são as chances para que o quadro não fique agravado e a pessoa consiga conquistar uma eficácia na vida afetiva, nas relações sociais, no trabalho e na saúde física. Portanto, o tratamento psiquiátrico e psicológico são indispensáveis.
O Transtorno do Espectro do Autista gera problemas relacionados a fala, a interação social em razão de uma profunda dificuldade para estabelecer uma comunicação com o interlocutor. É comum que o autista não se deixe abraçar, beijar nem olhar nos olhos. Os autistas são bem repetitivos em sons e palavras. Além disso, sua face normalmente costuma ser inexpressiva. Gritam muito até estarem adaptados a alguma rotina. É esperado que fiquem extremamente agitados quando estão em um ambiente que traz barulho demais. Ainda, balançam seus corpos para frente para trás por horas. O autismo não tem cura. Existe o tipo 1, que necessariamente tem uma dificuldade direcionada a planejamento e organização. O tipo 2 sentem ojeriza a mudanças e tendem a manter comportamentos mais repetitivos. No tipo 3 é notório que resta mínima a competência social. Nesse sentido, quanto mais cedo começar o tratamento, mais respostas favoráveis em sua evolução e avanços em sentido global o portador terá. O autista necessita imprescindivelmente de atendimento psicológico, fonoaudiológico e de acompanhamento médico.
5 – Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mostrou que 89,2% dos especialistas entrevistados destacaram o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes devido à pandemia de covid-19. A mesma pesquisa mostra também que 67,8% dos médicos receberam pacientes novos, que nunca haviam apresentados sintomas psiquiátricos antes, após o início da pandemia e do isolamento social.
Qual seu posicionamento sobre?
D: O vírus precisa ser avaliado em uma escala macro. Seria um equívoco acreditar que ele surgiu apenas para matar. De alguma forma, ele tem sua serventia para aqueles que assim souberem observá-lo. Certamente, apareceu em nossas vidas para tentar ativar a marcha da nossa imunidade emocional; para diminuirmos nossos excessos; reavaliarmos as nossas rotas com resiliência; para revermos nossas conexões humanas com mais intimidade, solidariedade e responsabilidade coletiva. Estivemos por muito tempo insalubres e improdutivos em nossos sentimentos. O vírus faz um convite para nos enxergarmos mais profundamente de perto. A pior catástrofe jamais foi a que está lá fora; é a que vinha marcando uma cruel ausência de dentro de nós mesmos. O momento atual exige uma revisita. Olhar para a destruição ou para a salvação implícita? A escolha é sua. Redescubra.
6 – Daniel, agradecemos nosso bate-papo. Então aguardamos sua estreia no próximo dia 9 de abril, sexta-feira.
D: Eu que agradeço por fazer parte dessa jornada. Estou feliz! Esse é o nosso primeiro passo em direção a muitos aprendizados. Sucesso a todos nesse percurso!
Por Tiago Gouvêia