O Sistema Estadual de Transplantes do Paraná apontou que, até maio deste ano, o número de paranaenses que aguardam por um transplante de fígado é de 201 pessoas, sendo 123 homens e 78 mulheres, principalmente na faixa etária acima dos 50 anos. Pelo menos 27 pessoas cadastradas na lista de espera apresentam cirrose causada por doença gordurosa hepática não alcoólica, que está relacionada com o excesso de peso e obesidade.
A obesidade é o principal fator de risco para desenvolvimento da doença gordurosa hepática não alcoólica. É uma doença silenciosa. Estima-se que 25% da população adulta com excesso de peso apresente algum nível da doença, que se agrava conforme o Índice de Massa Corporal (IMC) aumenta. Não existe tratamento para a redução da gordura no fígado e a única maneira de controlar a doença e evitar a evolução para cirrose, ou até mesmo câncer de fígado, é perder peso e melhorar dieta.
No Paraná, a obesidade já atinge 34% das pessoas adultas que tiveram seu peso e altura aferidos nas Unidades de Saúde, segundo registros do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Em Curitiba, segundo dados do Vigitel, do Ministério da Saúde, são 22,6% da população adulta com obesidade.
Um dos hospitais que mais realiza transplantes no estado é o Nossa Senhora das Graças – HNSG, em Curitiba. Nesta semana, a equipe do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (CIGHEP) do HNSG realizou o transplante hepático de número 250.
Como é feito o transplante de fígado
Considerado de alta complexidade, o transplante exige equipe e estrutura qualificada e doação de órgão compatível. Em todo o Paraná, nos últimos 10 anos, foram realizados 1965 transplantes de fígado, uma média de 196 procedimentos por ano.
Os pacientes candidatos a transplante de fígado são colocados em uma única lista, com base no tipo sanguíneo. Os casos mais urgentes, como os de hepatite fulminante, são priorizados, pois esses pacientes têm uma expectativa de vida extremamente curta e precisam ser operados rapidamente.
Um transplante de fígado leva cerca de cinco a oito horas, em média. Depois que o fígado antigo é retirado através de um corte na parte superior do abdômen, o fígado do doador é colocado no espaço vazio no abdômen do paciente. Os vasos sanguíneos do fígado do doador são conectados às veias e artérias do receptor e o ducto biliar é costurado com o ducto biliar do receptor ou uma parte do intestino.
Após o procedimento, os pacientes passam um a dois dias na Unidade de Terapia Intensiva e depois ficam em observação. O tempo médio de internação após o transplante é de uma a duas semanas.
Transplante 250
A paciente Vera Lucia Craveiro Devechi, de 65 anos, foi a paciente 250 a ser transplantada na última semana. Ela já era acompanhada pelo Serviço de Hepatologia do Hospital Nossa Senhora das Graças desde 2019.
Segundo o cirurgião responsável pelo procedimento, Dr. Eduardo Ramos, o transplante é apenas a ponta final de um processo que envolve diversas etapas, equipe médica multidisciplinar e estrutura qualificada.
“Quando temos um transplante hepático, todos os profissionais dão o seu melhor, o que torna o HNSG uma referência. Isso faz com que o hospital fique conhecido e melhora no tratamento de doenças complexas e traz excelência para todos os níveis”, comenta Ramos.
Inaugurado em 2019, o CIGHEP é uma estrutura que fornece atendimento integral aos pacientes do hospital. Cerca de 30 mil pacientes foram atendidos nos últimos três anos, mais de 700 pacientes submetidos a ressecção de tumores no fígado e no pâncreas, e milhares de outras cirurgias do aparelho digestivo.
“Nosso grupo não é só de clínicos e cirurgiões. Junto de outros profissionais essenciais, nós fornecemos um atendimento global ao paciente. Temos radiologistas que fornecem laudos precisos, e realizam procedimentos como a radioembolização, quimioembolização, radioablação de tumores, drenagem de coleções abdominais, drenagem de via biliar percutânea, embolização de veia porta, deprivação Hepática, entre outros procedimentos”, explica o Dr. Eduardo Ramos.
Doação de órgãos
De acordo com dados do Ministério da Saúde, há cerca de 4 a 5 doadores para cada 1 milhão de habitantes no Brasil e a necessidade de transplantes é muito maior do que o número de doadores com morte cerebral disponíveis. A negativa familiar é a segunda principal causa da não doação de órgãos. Neste ano, de janeiro a maio, dos 501 casos registrados no estado, pelo menos 77 (26%) a recusa familiar foi motivo da não doação de órgãos, segundo dados do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná. Importante salientar que um único doador pode mudar a vida de muitas pessoas e famílias. São dois receptores de rim, um de fígado, um de pâncreas, um de pulmão e um de coração. Além das córneas e tecidos.
Apesar de ser uma possibilidade, a doação de fígado intervivos ainda é rara. No último ano, dos 249 transplantes de fígado realizados no Paraná, apenas 15 foram de doadores vivos. Neste ano, dos 123 procedimentos, apenas 3 foram transplantes deste tipo.