Pela 1ª vez, brasileiros que estavam na Cisjordânia são resgatados

A aeronave VC-2 (Embraer 190), cedida pela Presidência da República, que pousou na tarde desta última quinta-feira (2) na Base Aérea de Brasília, foi a nona que regressou ao Brasil pela Operação Voltando em Paz, do governo federal, desde o início das hostilidades no Oriente Médio. Mas, foi a pioneira a trazer cidadãos brasileiros resgatados do território palestino da Cisjordânia. Os outros oito voos anteriores da Força Aérea Brasileira (FAB) repatriaram brasileiros que estavam em Israel.

Neste último voo da missão brasileira, os passageiros transportados partiram, na quarta-feira (1º), de Aman, na Jordânia, país vizinho a Israel, após negociações diplomáticas realizadas pelo Ministério das Relações Exteriores.

Dos 32 passageiros, 30 são brasileiros e, ainda, há um palestino e uma jordaniana, casados com brasileiros. Deste total de transportados, 12 são homens; 9 são mulheres e 11 são crianças. Entre os adultos, seis são idosos, dois deles cadeirantes, que receberam ajuda para descer da aeronave. Na chegada, o grupo acenou com bandeiras do Brasil e da Palestina.

Apenas uma passageira permaneceu em Brasília. As demais famílias repatriadas terão outros destinos finais. Das seis pessoas que desembarcaram na escala feita no Recife (PE), às 5h35 da manhã, três pessoas ficaram na capital pernambucana e três seguiram para Fortaleza (CE). 

A partir da capital federal, oito pessoas viajarão para Foz do Iguaçu (PR); cinco irão a São Paulo (SD); quatro, a Florianópolis (SC); três, Rio de Janeiro (RJ); dois, em Curitiba (PR); dois, em Goiânia (GO); e um para Porto Alegre (RS).

Resgatados

Agência Brasil conversou com alguns desses passageiros no desembarque, na capital federal, antes deles voarem para outros estados, até o fim do dia.

O primeiro a descer do avião e segurar um dos lados da bandeira do Brasil, Jalil Abdel, de 70 anos, contou que a guerra entre Israel e Hamas foi iniciada no momento em que ele fazia a visita anual à família na cidade de Ramala. Apesar de voltar em segurança ao Paraná, Jalil confessa que continua preocupado com os parentes que permaneceram na Cisjordânia. “Minha filha e minha esposa estão lá. Fico preocupado pela repressão que a gente tem lá. Muita repressão.”

Na outra ponta da bandeira verde e amarela, outro resgatado contemporâneo de Jalil, também com 70 anos, o palestino Mahmoud Abdel Aziz, sentiu que estava correndo perigo naquele território. Agora, Mahmoud sente gratidão por ter voltado ao Brasil, depois de uma temporada de seis meses na Cisjordânia. “É muito gostoso, é bom demais. Graças a Deus, que a gente tem a honra de ser brasileiros. Nós somos brasileiros. Agradecemos muito à nossa pátria, ao nosso pessoal, à Marinha, às Forças Armadas.”

Ao lado do avô, o brasileiro Mohammed Mahmoud, de 11 anos, voltará a Foz do Iguaçu (PR), após sair da casa que a família deixou na Cisjordânia. “Voltar para o Brasil é muito legal. Aqui, fico com meu pai, meu avô e minha avó”.

Outro palestino, Mahmoud Salim, de 43 anos, retornou com os filhos de 15, 13 e 7 anos e a esposa jordaniana, naturalizada brasileira, após ter passado dois anos em Ramala. O palestino conta que foi visitar familiares em outra cidade da Cisjordânia e não conseguiu retornar para casa. Pesou para a decisão de Mahmoud de voltar a São Paulo, onde já morou por oito anos, a piora da situação na Cisjordânia, desde o início do conflito na região. “Se você quiser passar para outra cidade, está perigoso. Ao lado da minha casa, jogaram bombas, balearam o pescoço de um cara. Perdi dois amigos. Agora, lá, está difícil. Eles colocam o [posto de] controle na saída e, às vezes, batem no pessoal por nada.”

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