Ciro, Moro, Doria e Tebet participaram de evento promovido por estudantes brasileiros.
Quatro pré-candidatos à Presidência da República foram sabatinados no último fim de semana na programação da oitava edição da BrazilConference, evento promovido pela comunidade brasileira de estudantes sediados em Boston, nos Estados Unidos.
Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Sergio Moro (União Brasil) e Simone Tebet (MDB) defenderam suas ideias para o país em painéis conduzidos por jornalistas, pesquisadores e estudantes.
A Lupa analisou algumas das declarações dos presidenciáveis no evento. Confira, a seguir, o trabalho de verificação:
CIRO GOMES (PDT)
“São Paulo não aplicou o piso dos professores, para dar um exemplo prático concreto”
FALSO
Em 5 de abril, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), autorizou o pagamento do novo piso salarial dos professores da rede pública de educação básica do estado de São Paulo. O valor será retroativo a janeiro desse ano, e será depositado na próxima quinta (14).
Desde 4 de fevereiro, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) sancionou o reajuste de 33,23% para esses profissionais, o piso salarial nacional da categoria passou de R$ 2.886 para R$ 3.845 —esse valor é relativo à carga horária de 40 horas.
Professores da rede estadual paulista chegaram a fazer um protesto em 16 de março porque, naquela ocasião, o governo de São Paulo ainda não tinha uma previsão para pagamento do reajuste. O pré-candidato foi procurado para comentar a checagem, mas não respondeu.
CIRO GOMES (PDT)
“Consulte o Ideb brasileiro, o Ceará tem o melhor do país hoje”
VERDADEIRO, MAS
A rede pública do Ceará teve a melhor nota no Ideb de 2019, último ano com dados disponíveis, em apenas um dos três ciclos educacionais —anos finais do Ensino Fundamental. Nos outros dois, o estado estava entre os primeiros colocados, mas outras unidades da federação tiveram desempenho melhor.
No ciclo inicial do Ensino Fundamental, a rede pública cearense foi avaliada com nota 6,3, a terceira mais alta do país —empatado com Minas Gerais e Santa Catarina. São Paulo (6,5) e Paraná (6,4) tiveram melhor resultado. No ciclo final, o Ceará teve a melhor nota, empatado com São Paulo— 5,2. Em ambos os casos, a nota inclui toda a rede pública, incluindo escolas estaduais e municipais, e ficou acima da meta estabelecida pelo Ministério da Educação (MEC).
Já no Ensino Médio, que é de responsabilidade apenas do estado, a rede estadual do Ceará ficou na sexta posição, com nota 4,2 —abaixo da meta estipulada pelo MEC. Goiás (4,7), Espírito Santo (4,6), Paraná (4,4), Pernambuco (4,4) e São Paulo (4,3) tiveram desempenho melhor. Apenas Goiás e Pernambuco atingiram a meta, que varia de estado para estado.
A nota do Ideb vai de 0 a 10, e é medida de acordo com o desempenho dos alunos em uma prova padronizada (dependendo do caso, a Prova Brasil ou a Saeb) e da taxa de aprovação de estudantes de cada escola.
JOÃO DORIA (PSDB)
“Nós ampliamos e multiplicamos, quase que dobramos, o número de delegacias da mulher. (…) Elevamos a praticamente o dobro o número de delegacias da mulher”
FALSO
Antes de João Doria assumir o governo de São Paulo, em janeiro de 2019, existiam 133 unidades da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) no estado. Durante sua gestão, o tucano abriu cinco novas unidades (Itanhaém, São Caetano do Sul, Jacupiranga, Arujá e Itaquaquecetuba) —e o número total passou para 138 unidades das delegacias. Ou seja, ele não ‘quase dobrou’ o número de delegacias da mulher.
A primeira DDM foi criada em 1985 durante a gestão de Franco Montoro (então PMDB). No total, ele criou 13 unidades especializadas. Orestes Quércia (PMDB) inaugurou 42 delegacias entre 1987 e 1991; Luiz Antônio Fleury (PMDB) criou 66 unidades entre 1991 e 1995; e Geraldo Alckmin (então PSDB) criou outras 5 unidades entre 2005 e 2014. Doria, porém, ampliou o número de delegacias da mulher que funcionam 24 horas de uma, em 2018, para onze.
Em nota, a assessoria do pré-candidato disse que ele se referia —embora não tenha explicitado— às DDMs 24 horas. Como explicado acima, foram criadas dez novas unidades desde 2019, sendo que apenas uma existia no início da gestão.
JOÃO DORIA (PSDB)
“Apenas de 2021 até março deste ano 1,2 milhão de novos empregos foram gerados”
EXAGERADO
Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que a diferença entre o número de demissões e de contratações no estado de São Paulo foi de 958.187 no período entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022.
Apesar de Doria referenciar “até março” de 2022, ainda não foram publicados os dados do Caged referentes ao mês de março. As informações do Caged incluem somente os empregos formais com carteira assinada.
A PnadC/T (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral) também considera os empregos informais na análise, mas os dados para os primeiros meses de 2022 ainda não estão disponíveis.
Em nota, a assessoria do pré-candidato disse apenas que São Paulo foi responsável por 29% dos empregos gerados no Brasil desde o início de 2019.