Ex-líder estudantil será o mais jovem a comandar os chilenos, com apenas 36 Anos

Esquerdista nascido no extremo sul da Patagônia, o ex-líder estudantil será o mais jovem mandatário da história chilena.

O presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, que será empossado nesta sexta-feira (11), é um ex-líder estudantil de 36 anos que fez sua campanha calcada no discurso da “esperança” e defendendo representar o anseio por mudanças, com a promessa de fortalecer um estado de bem-estar social no país.

“Representamos o processo de mudança e transformação que se aproxima, (mas) com certeza, com a gradação necessária”, disse certa vez, durante a campanha, com a intenção de afastar o temor de que sua eleição poderia significar o início de um período de caos.

Boric tem, como ele define, “um farol que ilumina uma ilha deserta” tatuado em seu braço esquerdo e relaxa com a leitura, mas sua vida real é a de um ativista de esquerda. Foi em sua cidade natal de Punta Arenas (sul), às margens do Estreito de Magalhães, onde este político começou a sonhar com este modelo de bem-estar para o seu país.

Atualmente, no entanto, tem sofrido críticas de parte da esquerda, que o acusa de ter adotado um tom mais moderado que seu discurso de campanha no ano passado e de ter escolhido nomes mais próximos ao centro para compor seu gabinete.

Boric disputou a presidência do Chile com a idade mínima exigida e foi o mais novo dos sete candidatos na disputa pela sucessão do conservador Sebastián Piñera.

Ele será o mais jovem mandatário chileno da história. Sua candidatura representa a coalizão “Aprovo Dignidade”, que reúne a Frente Ampla e o Partido Comunista.

Sua maior crítica à democracia após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) é ter continuado com o modelo econômico liberal que deixou uma classe média e baixa endividada para pagar a educação, a saúde e a previdência privada.

Muitos simpatizantes e críticos o viram crescer como líder político desde 2011, quando comandou protestos estudantis por uma educação gratuita, em um dos países com a educação mais cara do mundo.

Gabriel Boric é eleito presidente do Chile — Foto: AP Photo/Andres Poblete

Gabriel Boric é eleito presidente do Chile — Foto: AP Photo/Andres Poblete

“Nossa geração irrompeu na política em 2011, livrando-se um pouco dos medos que a ditadura havia gerado e dos pactos da transição”, disse.

Sua fala se referia ao regime militar de Pinochet (1973-1990) e à “Concertación”, a coalizão de centro-esquerda que, desde 1990, governou boa parte dos 31 anos de democracia, e hoje jaz desintegrada, desprestigiada como reflexo da crise de confiança institucional.

Na reta final da corrida eleitoral, o jovem candidato trocou a imagem de universitário rebelde pela de um ‘aluno comportado’, coerente com o tom moderado e negociador desta nova fase.

À sua época como dirigente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile, há 10 anos, ele atribui o início dos questionamentos a um modelo que era importante “contestar para tornar o Chile um país mais justo”, disse.

Naquela época, a democracia chilena tinha apenas 20 anos e os estudantes passaram a questionar “o modelo de desenvolvimento, questionar por que aquilo que acreditávamos que deveriam ser direitos sociais estavam privatizados; por que a educação era um privilégio e não um direito, por que havia saúde para os ricos e não para os pobres, por que as aposentadorias se transformaram em um negócio”, afirmou.

Durante a agitação social que abalou o Chile em outubro de 2019, Boric teve papel protagonista ao firmar o acordo político – do qual se retirou o Partido Comunista, que o hoje o apoia – para convocar um plebiscito para reformar a Constituição herdada da ditadura.

Os críticos de Boric reprovam sua inexperiência, sua aliança com o Partido Comunista, sua falta de título universitário, apesar de ter concluído a faculdade de direito, e também suas mudanças de postura.

Nesse sentido, seus adversários na corrida presidencial desenterraram tuíte de Boric saudando Nicolás Maduro como novo presidente da Venezuela, após a morte de Hugo Chávez em março de 2013.

Porém, durante a campanha, o jovem candidato fez questão de condenar esse regime, e de reprovar os cumprimentos de um líder comunista chileno à recente vitória de Daniel Ortega na Nicarágua.

“Em nosso governo, o compromisso com a democracia e os direitos humanos será total, sem apoio a nenhum tipo de ditadura e autocracia, doa a quem doer” escreveu em suas redes sociais recentemente.

Entre seus simpatizantes estão artistas famosos como o cineasta Pablo Larraín, diretor de “No” (2012) e “Jackie” (2016). Filho do ministro da Justiça do governo Piñera, Larraín faz parte de uma família da chamada elite de direita do país.

Patagônia

Oriundo de Punta Arenas, no extremo sul do país, Boric cresceu no seio de uma família simpática aos partidos Socialista e Democrata-Cristão. Não é casado, mas tem uma companheira com quem compartilha visões políticas, mas que rejeita o papel de de primeira-dama.

“Sou da Patagônia Austral, onde começa o mundo, onde se fundem todos os contos e a imaginação, no Estreito de Magalhães, que inspirou tantos romances”, disse, orgulhoso de sua região.

Se chegar à Presidência, quer “algo que na Europa seria bastante óbvio, que é garantir um estado de bem-estar para que todos tenham os mesmos direitos, independentemente de quanto dinheiro possuem na carteira”, resumiu.

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