Encontro será transmitido ao vivo no canal no YouTube, e a decisão será tomada em votação
Com duas vacinas contra a Covid-19 aguardando um sinal verde para serem aprovadas no país, as atenções se voltam neste momento para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), responsável pela liberação de imunizantes e medicamentos no Brasil.
Caberá neste domingo (17) a cinco membros da Diretoria Colegiada a autorização de uso emergencial das vacinas.
Segundo a Anvisa, no encontro de domingo os diretores deverão analisar os dados de relatório elaborado pela área técnica sobre os dois pedidos.
A avaliação técnica é feita por três áreas distintas da Anvisa, que são as áreas responsáveis pelo registro de medicamentos, pela certificação de boas práticas e pela farmacovigilância de medicamentos, que é o monitoramento de produto no mercado. Ao todo, as equipes envolvidas nas análises somam 50 pessoas.
A partir desse parecer, o grupo decidirá se liberará ou não a aplicação das vacinas. A decisão ocorre por votação. O encontro está previsto para ocorrer na parte da manhã, a partir das 10 horas.
A necessidade de reunião entre os diretores se dá porque se trata de uso emergencial e em caráter excepcional das vacinas –no caso de pedidos de registro, a decisão cabe apenas à área técnica.
A data da reunião corresponde ao último dia do prazo definido pela agência para analisar os pedidos de uso emergencial de vacinas.
As regras para uso emergencial foram criadas em dezembro, e a vacina contra a Covid-19 será a primeira a ser aplicada dessa forma no país. Também será a primeira vez que uma reunião pública da Diretoria Colegiada da Anvisa acontece num domingo.
A agência analisa dois pedidos para esse aval neste momento. O primeiro foi feito pelo Instituto Butantan, que mantém uma parceria com a empresa chinesa Sinovac. O laboratório busca autorização para uso de 6 milhões de doses da vacina Coronavac que foram importadas da China ainda no ano passado.
Já o segundo pedido foi feito pela Fiocruz, que mantém uma parceria com a farmacêutica AstraZeneca e Universidade de Oxford. A fundação pede autorização para uso de 2 milhões de doses que serão importadas da Índia.
A Diretoria Colegiada é formada por cinco membros, todos indicados no governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Dois são servidores de carreira da Anvisa.
Caso o aval às vacinas seja dado, o Brasil já poderá, em tese, aplicar os imunizantes. A medida vale a partir do momento em que a decisão for publicada no Diário Oficial da União, o que deve ocorrer no mesmo dia.
O início da imunização, no entanto, dependerá da organização da campanha e da logística de distribuição de doses.
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, fretou um avião para buscar os 2 milhões de doses da vacina de Oxford na Índia. O transporte será feito em um voo da companhia área Azul com origem em Recife, que vai decolar nesta quinta-feira (14).
O Ministério da Saúde avalia marcar o início da imunização contra a Covid em um evento no Palácio do Planalto na próxima terça (19) com governadores. A ideia é vacinar um idoso e um profissional de saúde.
A agenda, porém, ainda não foi confirmada. O ministro da Saúde enfrenta críticas por não dar uma previsão exata para o início da imunização —nesta semana, disse apenas que deve ocorrer no “dia D” e na “hora H”.
A opção por fazer a cerimônia é avaliada pelo Ministério da Saúde. Pelo lado do Planalto, no entanto, ainda há dúvida sobre a realização do evento.
O início da campanha de vacinação no dia 19 de janeiro colocaria o governo federal à frente do governo paulista, que pretendia começar a imunização em 25 de janeiro e já declarou que poderia solicitar uma antecipação caso a Anvisa libere o uso das doses antes dos dez dias de análise.
No sábado (9), entretanto, a agência informou ter recebido todos os documentos da Fiocruz necessários para análise, mas apontou que ainda faltavam informações do Butantan sobre a Coronavac.
Logo após a divulgação de que faltavam dados, o governador paulista, João Doria (PSDB), cobrou “senso de urgência” à Anvisa. A agência, porém, diz que os dados já eram previstos entre os requisitos para uso emergencial.
Nos últimos meses, a Coronavac tem estado no centro de uma guerra política entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador paulista, que são adversários para as eleições de 2022.
Os diretores
Antônio Barra Torres (diretor-presidente) (indicado no governo Bolsonaro)
- Contra-almirante da Marinha, formado em medicina pela Fundação Técnico-Educacional Souza Marques (RJ), foi diretor do Centro de Perícias Médicas da Marinha e do Centro Médico Assistencial da Marinha
- Assumiu como diretor-presidente interino em dezembro de 2019, sendo efetivado no mês passado
- É amigo próximo do presidente Bolsonaro e participou com ele de protestos sem o uso de máscaras.
Meiruze Sousa Freitas (indicada no governo Bolsonaro)
- Especialista em tecnologia farmacêutica e servidora de carreira da Anvisa desde 2007
- Na agência, foi gerente-geral de toxicologia e gerente da área de medicamentos
- Ocupa o cargo de diretora substituta desde abril e foi efetivada em novembro.
Cristiane Rose Jourdan Gomes (indicada no governo Bolsonaro)
- Médica e graduada em direito
- Trabalhou parte de sua carreira como gestora de planos de saúde. Até agosto, foi diretora do Hospital Federal de Bonsucesso (RJ)
- Publica em suas redes sociais artigos em defesa da hidroxicloroquina, em especial da médica Nise Yamaguchi, que é conselheira de Bolsonaro. O remédio, sem evidência científica para a Covid-19, também é defendido pelo presidente.
Romison Rodrigues Mota (substituto – indicado no governo Bolsonaro)
- Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Goiás.
- Servidor de carreira da Anvisa desde 2005, exerceu por 5 anos o cargo de Gerente de Orçamento e Finanças. Ocupou em 2015 o cargo de Gerente Geral de Gestão Administrativa e Financeira.
- Foi nomeado diretor substituto em julho de 2020.
- Contrariou interesses do governo ao, na posição de relator, votar a favor do banimento do agrotóxico paraquate.
Alex Machado Campos (indicado no governo Bolsonaro)
- Formado em direito
- Servidor de carreira da Câmara dos Deputados, com bom trânsito no mundo político
- Atuou no gabinete do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta
- Seu nome foi uma indicação do bloco político Centrão.
Fonte: Folha de São Paulo