A organização da vida em sociedade foi feita confiando na gentileza e cooperação entre as pessoas. Em princípio, todos querem que a sociedade funcione bem. Gentileza vem de gente, tratar as pessoas como gente.
Em algum ponto a humanidade inventou o semáforo, para que, quando vermelho, alguns carros não passassem e pedestres pudessem atravessar a rua em segurança. E depois os carros podem andar de novo. A essência do semáforo é bondade. Se você dá boa noite a alguém, há grandes chances de receber um “boa noite” de volta.
As pessoas continuam informando as horas umas às outras, dando informações sobre como chegar aos lugares ou te avisando quando sua carteira cai no meio da rua. Não nos esqueçamos disso: o imoral, o cruel e o violento são minoria. A vida funciona por cooperação e ela é que é soberana, é só parar para ver.
Quando a regra da boa vontade humana é quebrada, isso vira notícia e manchete de jornal. Não vai para as redes o sacrifício cotidiano, o trabalho árduo que muitas pessoas fazem diariamente para que os órgãos e instituições funcionem, para que as pessoas se alimentem, se vistam, tenham abrigo, que as ruas estejam devidamente iluminadas, sinalizadas, higienizadas, para que as pessoas possam se deslocar em segurança, e possam curar suas doenças, resolver uma questão burocrática, ter um documento, aprender a ler e escrever, construir formas inteligentes de veículos e moradias, aprimorando nossos utensílios para que não percamos tempo…
O esforço de inumeráveis seres está presente em cada instante do nosso cotidiano, em cada pão que comemos. Tem incontáveis seres fazendo o bem, o útil, o necessário, desempenhando funções que beneficiam a todos; são micro tarefas diversas que nos permitem viver nesse oceano de possibilidades de vivências em que estamos. Mas estamos acostumados a nos alarmar com os exemplos que não estão fazendo a sua parte ou destruindo o que de bom já está feito.
O nosso problema é de vista.
Colaboradora: Natalie Melquiades – Oceanógrafa e educadora. Insta: @nataliemelquiades